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Anônimo
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Miniatura
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Número de registro
MAC1339
Título
Anônimo
Autoria
Ano
2022
Denominação
Material/Técnica
Suporte/Mídia
Dimensões
70X60cm
Local de produção
Notas descritivas
A pintura Anônima, de Aline Bispo, produzida em 2022, é um óleo sobre tela colorido que mede 70 x 60 cm. Está disposta no sentido vertical em uma moldura lisa, retangular, em madeira. A obra retrata uma mulher negra retinta, em plano de busto, ou seja, um tipo de enquadramento que registra o corpo desde a cabeça até o peito. A imagem ocupa o centro da tela, medindo 44x36cm.
A personagem tem cabelos curtos, cacheados e pretos, aparenta ter meia idade e está de costas para o espectador, com o rosto virado para o lado direito e os braços rentes ao corpo, em posição de relaxamento. Ela veste uma blusa azul claro de mangas longas e uma faixa com uma listra verde e outra amarela, no sentido vertical, cruzando seu corpo. O adereço remete a faixa usada por presidentes da república no ato solene da posse, na foto oficial, em ocasiões cívicas e em viagens internacionais. A faixa presidencial é um símbolo do poder republicano em diversas nações.
O fundo da imagem é branco, e nele notam-se marcas, borrões e manchas ao redor da figura da mulher. Nota-se ainda uma despreocupação em preencher todos os espaços da massa pictórica, bem como, a presença de borrões de tinta ao redor da imagem, procedimentos que caracterizam um desapego da artista com um rigor formal. As pinceladas da artista deixam rastros da materialidade da tinta e de sua própria gestualidade.
Texto para etiqueta
ALINE BISPO
(São Paulo, SP, 1989)
Anônimo, 2022
Óleo sobre tela
70x60cm
Aquisição por compra e doação AAMACRS / Galeria Luis Maluf Eireli
Aquisição
Aquisição por compra e doação AAMACRS / Galeria Luis Maluf Eireli, 2022
Créditos da fotografia
Condições de reprodução
O uso de imagens e documentos é permitido para trabalhos escolares e universitários com caráter de pesquisa e sem fins lucrativos. Junto à reprodução, deve sempre constar obrigatoriamente o crédito à fonte original (quando houver) junto ao crédito: Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul. Os direitos autorais são de propriedade de seus respectivos detentores de direitos, conforme a Lei de Direitos Autorais (LDA – Lei no 9.610/1998). O MACRS não detém a propriedade de direitos autorais e não se responsabiliza por utilizações indevidas praticadas por terceiros.
Textos críticos
Texto Crítico
Anônima está entre os inúmeros retratos de personagens negros produzidos pela artista, em que ela propõe reflexões acerca das questões etnico-raciais, do colorismo, identidade, diáspora africana e espiritualidade.
O retrato surge no ano em que uma das eleições presidenciais mais importantes está prestes a acontecer no Brasil. Em um contexto de diversas discussões políticas e ameaças à democracia brasileira, que é ainda muito jovem. Segundo a artista, a principal questão que rege a construção de "Anônimo", é: "Quem tem que presidir esse país?".
A autora busca nesta obra convidar o público a refletir o lugar de retomada e discussão política feita pela população nos últimos anos, no país, além de refletir sobre a relevância política nos espaços onde a maior parte da população circula, em espaços como movimentos sociais, sindicâncias, organizações religiosas, organizações não governamentais, associações de bairros e similares. A ideia de um presidente, ou presidenta de costas também reflete o sentimento de uma população em relação ao cargo presidencial, em especial, mas também em relação aos demais eleitos e ocupantes dos cargos legislativo, executivo e judiciário.
Comentários/Dados históricos
A obra é datada de 2022, de autoria da artista Aline Bispo (São Paulo, 1989), intitulada "Anônimo". O trabalho, que foi capa da edição comemorativa de 61 anos da revista nacional CLAUDIA, apresenta a figura de uma mulher negra com a faixa presidencial verde e amarela e foi produzida no contexto das eleições presidenciais mais acirradas na história do Brasil. A obra foi doada ao Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), por meio da Associação de Amigos do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (AAMACRS), em 2022.
Exposições e prêmios
Exposição: SP Arte - Rotas Brasileiras. ARCA, São Paulo, SP, 2022.
|Exposição: MACRS +D, Galeria Augusto Meyer, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), 3° andar, Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre, RS, 2022.
Histórico de publicações
GALANTE, Helena. Brasil Arte, In: Revista Claudia; sonhar o amanhã. Artsy, Profundidade. Editora Abril, São Paulo, 2022, p. 18-24. reprod. capa.
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No mês em que completa 61 anos, CLAUDIA adiantou toda a sua operação de gráfica, distribuição e publicação digital para estar no ar antes do primeiro turno. Não queríamos menos do que isso: falar de política do começo ao fim, em toda abrangência que esse fazer humano deve ter. Na capa desta edição trazemos a potente obra Anônimo (2022), criada pela artista Aline Bispo (@aalinebispo). De costas, com a faixa presidencial verde e amarela no peito, uma mulher preta. “Pensei nesse lugar de retomada. Quem tem que presidir esse país?”, questiona Aline. Nós confiamos que é possível sonhar um amanhã diferente. E muito melhor." Revista Cláudia [online]. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CjI118Nt7Br/ , Acesso em 04 de outubro de 2022.
|"Na obra Anônimo (2022), que estampa o centro da capa desta edição de CLAUDIA, trouxe a figura de uma mulher negra. “Pensei nesse lugar de retomada. Quem tem que presidir esse país? Quem vai chegar lá,..." Disponível em: https://claudia.abril.com.br/cultura/aline-bispo-arte-politica/ , Acesso em 04 de outubro de 2022.
|"Espadas-de-são jorge, frutas, crianças com a camiseta da seleção, orixás. As referências á farta cultura brasileira assumem faces tão diversas nas obras de Aline Bispo quanto é possível imaginar. Ao observar mais atentamente suas pinturas, ilustrações, gravuras, fotos, estampas de roupa, grafites em empenas e perfomances (os seus talentos são múltiplos), é possível enxergar um forte elemento em comum: a vontade de promover reflexões e transformar atravessamentos em artes. Nascida em São Paulo, ela questionou o papel que o mundo parecia reservar para ela desde muito cedo. "Morava no Campo Limpo quando não existia nem a Linha Amarela do Metrô. Até o trabalho e onde estudava, eram trajetos bem complicados. Havia Etec perto da minha casa, mas os cursos que eu queria fazer, voltados para a criatividade eram nas unidades de outros bairros, mais elitistas", lembra a artista hoje representada pela Galeria Luis Maluf. Pois é nas ruas da cidade que algumas das criações de Aline podem ser apreciadas, do Minhocão à fachada do CEU Campo Limpo. Na arte da capa do livro Torto Arado. Ilustrando a coluna de Djamila Ribeiro no jornal Folha de S.Paulo toda semana, comemora a possibilidade de multiplicação das oportunidades de contato com o público. "Cursei artes visuais e fui bolsista. Preciso devolver isso para a sociedade", diz Aline. Tal vontade nasce de um entendimento profundo da função da arte num contexto maior. Uma frase de Nina Simone num documentário ficou gravada em sua memória. "O dever de uma artista é o de refletir os tempos. Eu acho que é verdade para pintores, escultores, poetas, músicos...É escolha deles, mas eu escolho refletir os tempos e as situações em que me encontro. Para mim, é o meu dever. E nesse tempo crucial em nossas vidas, quando tudo é tão desesperador, quanto todo dia é uma questão de sobrevivência, eu acho que é impossível você não se envolver", declarou a cantora, compositora e ativista. Sempre pensativa, Aline não sente necessidade de ser imparcial - "ninguém é", afirma -, nem tem respostas prontas para os dilemas que enfrentamos. No lugar, oferece perguntas. Na última edição da SP-Arte, por exemplo, apresentou peças que entrelaçavam lembranças e expectativas. "De criança, tenho a imagem das pessoas pintando a calçada de verde e amarelo, as unhas. É uma memória afetiva, de sair na rua e ter bandeira do Brasil. Mas e hoje, o que um país que passou por um processo político de embranquecimento, mas, ao mesmo tempo, há uma capacidade de burlar isso, modificar, dar uma abrasileirada em tudo. Então, a bandeira é o que a gente quer que seja", dispara. (GALANTE, 2022, p. 19 - 20)
|"Para suscitar debates, a artista mexe também nas nossas raízes. "Quais são os povos que construíram esse lugar? Penso nos indígenas, nas pessoas que foram escravizadas, na minha família nordestina, no meu pai pedreiro, no quanto é nordestina, no meu pai pedreiro, no quanto é necessária uma reformada. O que está acontecendo com a gente é muito triste. Esse país tem tanto a oferecer, é criativo em todos os lugares", pontua. Com rostos sempre indefinidos, nos quais é possível que cada observador também se enxergue, Aline retomou a linguagem das fotos 3X4 dos presidentes. Na obra Anônimo (2022), que estampa o centro da capa desta edição de CLAUDIA, trouxe a figura de uma mulher negra. "Pensei nesse lugar de retomada. Quem tem que presidir esse país? Quem vai chegar lá, quem não vai chegar? Pensei em vários anônimos e anônimas que estão fazendo a coisa acontecer e têm mais relevância do que muitos políticos." É no terreiro de umbanda, cercada pelas forças da natureza, bambuzais e locais divinos, onde Aline recebeu a nossa equipe da natureza, bambuzais e locais divinos, onde Aline recebeu a nossa equipe para uma sessão de fotos, que a artista tem buscado reconhecer seu próprio lugar nesta teia. "Olho para a minha espiritualidade e para minha ancestralidade, tudo que me compõe", conta ela. "Nas religiões de matriz africana e da influência ameríndia, há o olhar de que o espiritual precisa ser levado para a vida prática. Esse é um valor que vem com a questão do respeito. "Atenta às forças, aos mistérios e aos encantamentos que rodeiam, Aline procura honrar o feminino. Nós carregamos o nosso pai e a nossa mãe, temos que estar em equilíbrio de nossas energias. Não é sobre cada natureza se soprepor, mas sobre ficar equilibrado. Esse é o lugar da fartura e da festividade." O desdobramento, na prática, dessa linda cosmovisão vai ganhar forma na retomada de um projeto de educação com visitas guiadas a centros artísticos. "Muitas pessoas têm medo, não sabem que existe museu de graça. Quero levar essa pessoa para um lugar onde ela possa acessar. Fui achando minhas brechas mas quero abrir caminhos para que outros possam percorrer. " Sagrada arte política (GALANTE, 2022, p. 21-24)
|"A obra Anônimo, 2022, surge no ano em que uma das eleições presidenciais mais importantes está prestes a acontecer no Brasil. Em um contexto de diversas discussões políticas e ameaças à democracia brasileira, que é ainda muito jovem. A autora busca nesta obra convidar o público a refletir o lugar de retomada e discussão política feita pela população nos últimos anos, no país, além de refletir sobre a relevância política nos espaços onde a maior parte da população circula, em espaços como movimentos sociais, sindicâncias, organizações religiosas, organizações não governamentais, associações de bairros e similares. A ideia de um presidente, ou presidenta de costas também reflete o sentimento de uma população em relação ao cargo presidencial, em especial, mas também em relação aos demais eleitos e ocupantes dos cargos legislativo, executivo e judiciário". (BISPO, 2022)
|"Em 2019, você reimaginou a bandeira do Brasil para homenagear mulheres, indígenas, quilombolas, nordestinos. Daqui a pouco, teremos eleições e Copa do Mundo. Por que precisamos nos reapropriar da nossa bandeira? É urgente! Todas as cinco obras que levei à SP-Arte passam por esse tema. A minha busca é discutir esse lugar de onde a bandeira está, pensar suas cores, a frase e como ela foi criada. Há uma questão europeia que poucas pessoas sabem e precisa ser falada.Tenho uma memória muito particular da Copa que é a bagunça das crianças indo pintar a rua, colocar a camiseta do Brasil para torcer e se reunir com a família e amigos para ver o jogo. Há uma mobilização popular muito forte. Nesse ano, pensando em tudo o que a gente tem passado durante a pandemia, temos uma responsabilidade muito grande de questionar e ressignificar esses símbolos. Não podemos deixar que nossa bandeira reflita um discurso de ódio. Quem sabe, podemos recriá-la de diferentes formas" - Aline Bispo em Entrevista para o blog Terra (2022).
Disponível em: https://www.terra.com.br/nos/conheca-aline-bispo-que-usa-a-arte-para-celebrar-a-negritude-e-a-natureza,a5ebfba97bfc80941b67c25aa72162220jkh7oju.html . Acesso em 21 de novembro de 2022.