A obra “Aceita?” do artista Moisés Patrício foi desenvolvida em 2023 com a técnica de fotografia digital, se tratando de um díptico nas dimensões 30 x 60cm. As fotografias consistem em dois registros da mão do artista com a palma para cima. Nas duas imagens, a mão direita, de cor de pele negra, é posicionada para cima segurando objetos em posição de oferenda, em um registro fotográfico do ponto de vista daquele que estende seu braço. A obra faz parte da série “Aceita?”, desenvolvida desde 2014 pelo artista, contendo cerca de mil imagens publicadas nas redes sociais e realizadas por meio de registros de câmera do celular. O recorte enquadra o cenário do chão, incluindo a mão para além da altura do pulso, em que há uma pulseira de conchas naturais na cor bege. Na primeira imagem, um caminho de terra marrom com pedras cruza uma horta de tonalidades verdes que ocupa o lado esquerdo e direito da fotografia, sendo sobreposto pela mão centralizada no meio da obra segurando variadas hortaliças frescas. Na segunda fotografia, a mão paira sobre um fundo de folhagens na cor verde escuro, que cobrem a totalidade do chão, enquanto segura em sua palma duas figas de madeira escura de pequena dimensão, que portam pequenas pulseiras entrelaçadas em seus pulsos.
Aceita?, 2023
Fotografia digital com tinta pigmento em papel photo mate 200gms, 30 x 30 (cada), díptico
Aquisição e doação através da AAMACRS - obra pertencente ao do Clube do Colecionador, edição 2023.
Aquisição
Aquisição e doação através da AAMACRS - obra pertencente ao do Clube do Colecionador, edição 2023.
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Textos críticos
Texto Crítico
Tensionando questões raciais através da arte afro-brasileira e da revisão histórica sobre a imposição colonial, o artista Moisés Patrício utiliza registros fotográficos da sua palma da mão em posição de oferecimento do objeto que carrega. O gesto de oferenda é uma referência ao Candomblé, que enquanto religião marginalizada na sociedade brasileira, possui ritos e cultos baseados em ofertas materiais aos orixás. Os objetos que o artista apresenta em sua mão são encontrados por ele nas ruas da cidade de São Paulo, como em uma revisão sobre o que é descartado pela sociedade. Inspirado pela produção de Duchamp, Moisés relata sua intencionalidade de ressignificação de elementos banais: “Eu parto do discurso dele de pegar um objeto que não tenha nenhum traço humano, nenhum gesto, e tento ativar na minha mão” (Afreaka, 2023). Em sua posse, os objetos ganham novos significados e refletem sobre a vivência urbana do artista em sua curadoria de coletas permeada pela segregação do espaço público. O acolhimento daquilo que é descartado segue uma narrativa de fortalecimento do que é considerado socialmente rejeitado, como a herança africana, a negritude e a diversidade religiosa.
No díptico, são apresentadas duas fotografias: em uma delas estão duas figas de madeira, e na outra, hortaliças recém colhidas. Em forma de mão com o dedo polegar entre o dedo indicador e o médio, a figa integra a lista de ícones de religiões de matriz africana como a Umbanda e o Candomblé, sendo compreendida na crença popular como um amuleto de proteção que “fecha o corpo” contra o mal e traz sorte. Em um paralelo, a segunda fotografia que complementa o díptico apresenta uma composição que remete à atividade de horticultura, em que a mão oferece um punhado de hortaliças de aparência recém colhida em um contexto de horta. Gerando sensação de prosperidade e abundância, a oferta do alimento implica em uma proposta de partilha e comunidade, referenciando aspectos da agricultura de subsistência.
Exposição + Acervo: caminhos para as aquisições do MACRS, Galeria Sotero Cosme, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), 6º andar, Casa de Cultura Mário Quintana, 2024.
