Crédito foto: Thiele Elissa
O Acervo do MACRS reúne mais de 2 mil obras de arte, desde a década de 1960 até os dias atuais, abrangendo diferentes linguagens das artes visuais, como pintura, escultura, gravura, cerâmica, desenho, fotografia, instalação, registro de performance e vídeo, entre outras. O acervo do Museu é composto por arte brasileira e latino-americana, com ênfase na produção contemporânea de artistas do Rio Grande do Sul.
O projeto Tainacan MACRS
Em 2021, o MACRS, em parceria com o projeto de extensão Gestão de Acervos Museológicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), coordenado pela professora Ana Celina Figueira da Silva e pelo museólogo Elias Machado, do curso de Museologia/UFRGS, deu início ao projeto de implementação do repositório digital Tainacan no MACRS, uma plataforma flexível e democrática de difusão e preservação de acervos de instituições culturais na internet, cujo objetivo é disponibilizar on-line o acervo artístico do Museu.
Através de um plano de trabalho elaborado pelo Setor de Acervo do MACRS, seguindo a metodologia proposta pela consultoria com a Museologia, a equipe desenvolveu como primeiro passo um estudo de padrão de metadados (similares, por exemplo, às configurações dos campos que farão parte de um “formulário”, ou aos campos de uma “ficha museológica”), que contemplassem todas as especificidades de um museu de arte contemporânea. Ao final dessa etapa foi estabelecido o conjunto de metadados do MACRS, formado por 50 campos descritivos que compõem a ficha de documentação museológica do acervo. No segundo passo do projeto, estudou-se o uso de vocabulários controlados em acervos de arte contemporânea, através da investigação de terminologias utilizadas por outras instituições desta tipologia. Procurou-se também vocabulários específicos para metadados como identidade de gênero e orientação sexual, localizações geográficas e formatos de arquivos digitais. O resultado desta fase foi a produção de um arranjo de vocabulários controlados e glossário de termos do MACRS. A etapa final, atualmente em andamento, contempla a publicização do acervo museológico do MACRS no Tainacan.
Em agosto de 2022, em ocasião do Dia do Patrimônio Cultural, o MACRS disponibilizou um conjunto de obras na plataforma, advindas da coleção piloto, que corresponde às obras que participaram da exposição “Matéria Difusa – um olhar sobre a coleção MACRS”, com curadoria de Gabriela Motta, comemorativa ao aniversário de 30 anos do Museu. O conjunto publicado inicialmente, composto por quatro peças, foi ainda tema da mostra expográfica “Relações de pesquisa: acervo MACRS em rede”. A coleção buscou apresentar ao público-usuário uma experiência de como foi o processo de documentação e pesquisa histórica do conjunto, trazendo para o ambiente materiais como catálogos, livros, convites de exposições, vídeos, materiais educativos, entre outros métodos de pesquisa aplicados no caminho da inclusão de dados na plataforma digital.
Na medida em que acervos de arte contemporânea possuem características muito próprias, transitando entre as fronteiras de espaço e temporalidade, materialidade e intangibilidade, a reflexão acerca de novas possibilidades de documentação desse acervo e o compartilhamento de saberes e experiências entre profissionais de museus e de outras áreas de conhecimento conexas torna-se central no esforço de se evitar prejuízo na transmissão de informações. Nesse sentido, nasce o Laboratório Tainacan, outro desdobramento da experiência de publicação de parte da coleção piloto no repositório. O projeto reúne a equipe do Setor de Acervo, a diretora Adriana Boff e a pesquisadora Gabriela Motta, curadora da exposição “Matéria Difusa”, em reuniões semanais, nas quais o grupo seleciona uma obra da coleção que está sendo trabalhada, e analisa e discute seus metadados, especialmente àqueles relacionados à definição de linguagens artísticas.
Em consonância com a missão da instituição e entendendo a importância do museu como agente mediador nos processos de pesquisa e produção de conhecimento, a equipe do projeto optou pela disponibilização gradual do acervo artístico on-line, à medida em que os conjuntos de obras vão sendo readequados à nova metodologia de catalogação adotada pelo MACRS. O critério de seleção para o estudo e posterior publicização das obras ocorreu de forma orgânica, levando em conta que as primeiras obras integraram a exposição Matéria Difusa, intuitivamente a segunda leva de obras publicizadas fez parte da exposição MACRS +D, realizada em dezembro de 2022.
Dessa etapa, sob coordenação de Izis Abreu participaram as estagiárias: Ana Carolina Gabardo, Ana Paula Kramer, Andressa Pacheco, Bruna Martin, Isadora Garnier, Luara Rodrigues e Maria Luiza Mello.
O ano de 2023 foi marcado por importantes implementações para a qualificação das reservas técnicas do MACRS, garantindo, assim, a melhoria da guarda das obras de arte que pertencem ao acervo do Museu. Para essa primeira etapa do projeto, foram adquiridos 30 traineis com o intuito de acondicionar obras, sobretudo bidimensionais, privilegiando a segurança e a praticidade. A aquisição foi viabilizada com recursos do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac).
Uma nova parceria foi estabelecida com a UFRGS, no curso de bacharelado em Museologia, por meio do projeto de extensão coordenado pela professora Jeniffer Cuty, para a aplicação do método RE-ORG na reserva técnica do MACRS. O RE-ORG é uma metodologia desenvolvida pelo Canadian Conservation Institute (CCI), pautada em temáticas de conservação preventiva e gerenciamento de riscos e difundida, na forma de ação em diversos países, pelo International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property (ICCROM). O objetivo da disciplina, que reuniu 19 estudantes e a equipe do acervo do MACRS, era garantir que o acervo artístico do Museu fosse adequadamente preservado e acessível em suas reservas técnicas.
Após o levantamento das necessidades desenvolvido pelo programa, as obras bidimensionais foram ordenadamente penduradas no mobiliário, resultando na acomodação de 248 obras do acervo do MACRS, que agora possuem localização dentro da reserva, facilitando, assim, a pesquisa das obras do acervo. Um relatório detalhado do processo de aplicação da metodologia RE-ORG foi entregue ao MACRS.
Também em 2023, foi realizada a segunda edição do projeto Relações de Pesquisa, dessa vez tomando como ponto de partida as pesquisas realizadas pelo setor de Curadoria do MACRS. A exposição “Relações de Pesquisa: MACRS – Processo, Experimentação e Acervo” teve como objetivo resgatar a história do Museu, a constituição de seu acervo e suas primeiras exposições. A iniciativa surgiu da necessidade de levantar informações para o Tainacan do MACRS, do projeto RE-ORG em parceria com a Museologia da UFRGS e do Acervo em Foco. Além da exposição, com um amplo programa educativo, foram restauradas as obras: “Sem Título”, de Angelo Venosa; “Sem Título”, de Iole de Freitas; “Fachada em Azul e Vermelho”, de Marco Gianotti; e “Sem Título”, de Nuno Ramos, esta última contando com uma ação de restauração ao vivo pelas restauradoras Ísis Fófano e Fernanda Rodrigues, na Galeria Xico Stockinger, no 6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana, com a intenção de compartilhar o processo com o público. A programação do projeto também contou com o seminário “Processo, Experimentação e Acervo”, no qual foram compartilhadas experiências curatoriais de José Francisco Alves e Ana Albani e que possibilitou o reencontro do artista Carlos Fajardo com sua obra do acervo, 30 anos depois.
Em 2024, o MACRS passou por uma mudança na coordenação do acervo, agora sob a gestão da historiadora da arte e servidora pública Mélodi Ferrari. Os novos desafios dessa fase incluem as próximas etapas do Tainacan do MACRS, divididas em duas: a primeira visa maior agilidade na publicação das informações básicas das obras da coleção do acervo artístico; a segunda, a implementação das coleções de eventos e autoridades.
A primeira etapa envolveu a reformulação do plano de trabalho, que previa a organização das reservas técnicas, iniciada pelas obras localizadas nos traineis, seguida pelas obras dos escaninhos, todas acomodadas na Reserva Técnica 1 (RT1). Paralelamente à organização das reservas, foi concluída a importação da planilha de arrolamento do acervo. Com isso, os dados das obras foram revisados e publicados on-line no Tainacan. Com essa nova metodologia de trabalho, o objetivo foi revisar e agilizar a publicação dos dados básicos das obras. Assim, até março de 2025, cerca de 80% do acervo artístico está disponível no site, abrangendo técnicas como pintura, escultura, instalação e fotografia.
Os dados empíricos sobre as obras, que se aplicam ao preenchimento dos metadados relacionados à pesquisa, serão coletados à medida que as obras forem selecionadas para exposições, sejam elas realizadas nas galerias do museu, seja em outras instituições. Esse processo conta com a retomada dos Laboratórios Tainacan, com a participação de curadores envolvidos em exposições recentes, que contribuem para o levantamento das informações históricas das obras, bem como para a elaboração de notas descritivas e textos críticos que alimentam o repositório Tainacan.
Na segunda etapa, houve a implementação das coleções Eventos e Autoridades, com a reformulação de pontos essenciais, a fim de aprimorar a experiência do usuário e otimizar o trabalho dos pesquisadores na inserção de dados no repositório. Essa etapa foi realizada pela consultora Nina Sanmartin, especialista na ferramenta, que analisou o design da plataforma, os relacionamentos, as taxonomias e a revisão dos vocabulários controlados e padrões de metadados.
Até o momento, a coleção de Eventos registrou 247 atividades, abrangendo o período de 2011 a 2025. Já a coleção de Autoridades inclui informações sobre mais de 900 artistas, além de curadores, diretores, educadores, palestrantes e pesquisadores, reconhecendo a contribuição de diversos protagonistas para a história do Museu e das artes visuais na cidade.
As três coleções (Acervo Artístico, Autoridades e Eventos) estão interligadas por meio de links de relacionamento, tornando o Tainacan do MACRS inovador ao integrar documentação e obras do acervo. Nesse formato, existe maior organização e interconexão de itens dentro de um repositório digital, permitindo a criação de relações entre diferentes registros. Essa funcionalidade é útil para estabelecer conexões entre documentos, imagens, vídeos e outros tipos de conteúdos, garantindo uma navegação mais estruturada e enriquecedora para os usuários. Dessa forma, a ferramenta contribui para a construção de um sistema de informação mais dinâmico, acessível e eficiente para pesquisadores, gestores de acervos e o público em geral.
O site do MACRS também foi remodelado em 2024. Desenvolvido pelo Studio Visto, o site foi reestruturado com foco na experiência do usuário, proporcionando acesso facilitado às informações institucionais do MACRS e, sobretudo, ao Acervo Digital. Além disso, para garantir a segurança dos dados, foram adotadas diversas medidas, incluindo a separação dos domínios dos sites do MACRS e do Acervo MACRS, além da migração de todo o servidor para a gestão da Procergs. Esse processo foi conduzido pelo coordenador do Programa Acervos da Cultura no âmbito da Sedac, Cassio Felipe de Oliveira Pires. O objetivo principal é desenvolver, implementar e gerir o repositório digital dos Acervos da Cultura, além de realizar estudos e pesquisas que apoiem essa iniciativa.
Outra conquista importante para o acervo foi a mudança da sala da Reserva Técnica 2 (RT2). Por meio de uma permuta com a Casa de Cultura Mario Quintana, foi possível realocar o acervo do Museu para uma sala mais ampla e arejada, com capacidade para armazenar obras tridimensionais. O espaço passou por melhorias, como pintura, troca de piso e instalação de cortinas. A nova estrutura recebeu 234 obras, acomodadas em estantes, escaninhos e paletes. Na RT2, foi possível destinar um espaço específico para a obra “Sem título”, do artista Nuno Ramos, que, pela primeira vez, pôde ser armazenada dentro da reserva, garantindo sua preservação.
Essa fase contou com novos integrantes na equipe: Clara Bastos, Fernanda Feliciano, Giordano Alves Mendes, Giovanni Alvarez, Luiza Barth, Mariana Christmann e Rodrigo da Silva Mendes.
Em decorrência dos impactos da enchente ocorrida em Porto Alegre entre os dias 2 e 4 de maio de 2024 e que afetou diversas instituições do Estado, foi organizada uma força-tarefa composta por servidores, voluntários e profissionais das áreas de cultura e patrimônio para a recuperação de acervos atingidos. Como o acervo do MACRS não sofreu danos, por estar localizado no 3º andar da Casa de Cultura Mario Quintana, foi estabelecida uma parceria entre o MACRS e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS). Durante os meses de junho e julho de 2024, a equipe do setor de acervo (a coordenadora, Mélodi Ferrari, e os estagiários Clara Targa, Fernanda Feliciano, Giordano Alves e Luiza Barth) participaram das atividades de recuperação do acervo do MARGS, sob a orientação da restauradora do Departamento de Conservação e Memória do Complexo do Palácio Piratini, Ísis Fófano, e da restauradora Naida Corrêa.
Política de aquisição do MACRS
2023 – 2027
O Acervo do MACRS reúne mais de 2 mil obras de arte desde a década de 1960 até os dias atuais, abrangendo diferentes linguagens das artes visuais, como pintura, escultura, gravura, cerâmica, desenho, fotografia, instalação, performance e vídeo.
- Da natureza e finalidade
O documento define as diretrizes, procedimentos e critérios para as aquisições de obras de arte no acervo do Museu, para que a coleção cresça de maneira atrelada à missão e às linhas de pesquisa institucionais
- Das diretrizes
A diretriz básica das políticas de aquisição do MACRS determina que elas estejam em consonância com as linhas de pesquisa do acervo, com a missão, os valores e os objetivos do Museu. Seu acervo é voltado para a preservação, difusão e pesquisa em arte contemporânea brasileira e estrangeira, com ênfase na produção de artistas gaúchos. O MACRS tem a missão de promover, pesquisar e incentivar o pensamento e a produção contemporânea em artes visuais de forma a preservar e proteger seu acervo para que este seja reconhecido como um patrimônio relevante para a pesquisa e para os processos acessíveis de aprendizado em arte e cultura. Visa estabelecer diálogos entre o acervo e a multiplicidade de saberes e culturas, possibilitando a produção de conhecimento e o intercâmbio de experiências dos públicos com arte. As diretrizes, procedimentos e critérios para as aquisições de obras foram estabelecidas considerando:
- A capacidade de documentar, armazenar, conservar, gerir riscos e disponibilizar os bens aos públicos adequadamente, de acordo com suas condições de espaço físico e equipe técnica especializada, ou seja, infraestrutura necessária a sua preservação (recursos humanos, financeiros e orçamentários);
- A legitimidade da proveniência e a regularidade jurídica da posse e da propriedade do bem a ser incorporado;
- A análise técnica do conjunto de profissionais do museu nas decisões, por meio de comissões técnicas.
A revisão das Diretrizes deverá ser concomitante com as revisões do Plano Museológico, quando este estiver publicizado, seguindo a legislação vigente, se houver necessidade de alterações do documento.
- Das aquisições
As aquisições devem estar em consonância com as políticas institucionais. Para o período de 2023 – 2027 fica estabelecida a política de aquisição que prima por:
- Alcance da equidade racial e de gênero entre artistas que integram o acervo artístico, devendo ser prioridade a aquisição de obra de artistas racializados como negros/as e indígenas, artistas transgênero e mulheres cis que tenham, de preferência, atuação na área de pelo menos de 05 (cinco) anos;
- Maior representatividade na quantidade de obras de artistas contemporâneos que integram o acervo, a fim de ampliar a representação em diferentes momentos de sua trajetória;
- Ampliar a representatividade de nomes de artistas da arte contemporânea, sobretudo do Rio Grande do Sul, que estejam se destacando no campo da arte nacionalmente e que tenham, de preferência, atuação na área de pelo menos de 05 (cinco) anos;
- Selecionar obras a partir do programa de exposições do Museu, oriundas de exposições in loco, que tenham relação com as políticas de aquisições e com as pesquisas no acervo de artistas que tenham, de preferência, atuação na área de pelo menos de 05 (cinco) anos.
- Das propostas de doação de obras e projetos de aquisição
As propostas de doação de obras de arte para o acervo por artistas e/ou colecionadores serão encaminhados para análise dos/as membros do Comitê, constando:
- Nome do proponente
- Título da obra de arte
- Datação e técnica artística, nome(s) do(s) autor(es) (artista), com breve currículo e outras obras pertencentes ao acervo, caso houver.
Projetos de aquisição de obras de arte para o MACRS serão elaborados sob consulta aos membros do Comitê, conforme as diretrizes da política de aquisição e consonância com a Missão do Museu.
- Da tramitação das propostas
As propostas de incorporação de peças no acervo MACRS a serem analisadas pelo Comitê deverão obedecer ao seguinte trâmite:
- O proponente deverá solicitar a análise de sua proposta com o preenchimento dos formulários de ARTISTA e OBRA enviados pelo setor de Acervo;
- Com o conteúdo completo, a proposta será submetida ao Comitê de Acervo e Curadoria, que incluirá a análise da proposta na pauta de reunião programada do Comitê;
- A proposta que será analisada pelo Comitê poderá ser APROVADA ou INDEFERIDA;
- A partir do parecer do Comitê será oficializado com o proponente, através dos devidos Termo de Doação, no que tange direitos patrimoniais e de imagem;
- Após concluídas as assinaturas nos Termos de Doação a obra poderá ser entregue ao Museu e incorporada ao acervo.
- Dos critérios de avaliação das propostas
Serão considerados na análise e julgamento das propostas de obras de arte a serem incorporados pelo MACRS as diretrizes da Política de Aquisição de Acervo do MACRS:
- Atender às diretrizes da Política de Aquisição do MACRS;
- Estar em consonância com a Missão do MACRS;
- Levar em consideração as condições de armazenamento das Reservas Técnicas do MACRS, bem como as condições de conservação exigidas pela peça artística.
Os cuidados com segurança previstos no item “c” desse artigo devem levar em conta tanto questões estruturais e de durabilidade quanto questões relacionadas às necessidades de conservação preventiva e de restauração, ou formas que possam representar risco às demais obras guardadas em acervo, bem como à equipe técnica do Museu.