Descrição
Uma das lembranças mais vívidas de Téti Waldraff (Sinimbu, RS, 1959) é do período em que, menina, percorria e observava o primoroso jardim mantido pela mãe. O amor que Dona Íris devotava às plantas e o modo como distribuía as espécies, harmonizando formas e cores, foram alimentando desde cedo o olhar e a sensibilidade de Téti, que, quando percebeu, também cultivava jardins. Reais ou fictícios, eles são como a própria artista: lúdicos, desembaraçados, obsessivos. E, fundamental: plenos de memórias e afetos.
Pode-se dizer que tudo, na sua obra, é resultado de encontros. Para Téti, é essencial vaguear pela cidade, deixar-se surpreender pela natureza, respirar o mato verde do distrito de Faria Lemos, no interior de Bento Gonçalves, onde mantém ateliê. Os registros desses percursos, depois elaborados, manifestam-se nos diários da artista, nos quais escreve, projeta, risca, colore, fixa imagens e impressões.
Anotações pessoais e, ao mesmo tempo, documentos de trabalho, esses cadernos revelam procedimentos similares aos verificados
em seus desenhos e objetos: sobreposição, aglutinação, colagem, costura, embrulhamento, amarração.
Tais processos despontaram no final dos anos 1990, quando, perguntando a si mesma se ainda poderia pintar uma paisagem,
Téti trocou os materiais tradicionais por uma miríade de tecidos, lantejoulas, flores de plástico, botões e artefatos hodiernos frequentemente qualificados como kitsch. Fascinada por seus brilhos, transparências e texturas, passou a construir jardins ambulantes, cujos títulos sugerem a capacidade de ressignificação de nossas bagagens cotidianas. Organizada como uma pequena antologia, a mostra articula trabalhos de mais de 25 anos de perseverante e contínua produção, escancarando o transbordamento de emoções dessa artista e arte-educadora que resolveu fazer da vida um ato potente de arte.
Paula Ramos
Curadora
Crítica de arte, professora-pesquisadora do Instituto de Artes da UFRGS e membro do Comitê de Acervo e Curadoria do MACRS