Descrição
Alguns artistas, ao longo do tempo, parecem perseguir obstinadamente um determinado assunto – ou uma determinada forma, ou ainda uma ideia. Insistem e voltam a insistir em torno de certas questões. Por vezes, tratam de transformá-las, ou diluí-las, mas nunca as esquecem de todo.
Outra possibilidade seria imaginar que são justamente esses temas que não abandonam o artista. Nem todas as escolhas de quem cria se dão de forma consciente. Aparentemente, há problemas que retornam, ou que teimam em permanecer, quase à revelia de seus autores. Eles não são convocados, nem solicitados, mas, quando menos se espera, estão lá mais uma vez. Quem sabe é esse o caso da paisagem no percurso criativo de Teresa Poester. Em mais de 35 anos de produção, seja no desenho, na pintura, no vídeo, na fotografia ou na gravura, a representação da paisagem – ou pelo menos uma sugestão dela – se faz constante, persistente. Em meio a figurações de jardins, pedras, janelas ou mesmo entre abstrações, entre gestos largos ou miúdos, entre linhas e manchas, entre a cor e o preto-e-branco, de repente irrompe uma paisagem. Daí o recorte desta exposição.
Não se trata de uma retrospectiva, nem de um panorama de orientação cronológica. Antes, identifica a reiterada aparição da paisagem na trajetória da artista. As imagens de Teresa, oriundas de uma prática de ateliê, também ela obstinada, perseverante, e ao mesmo tempo vigorosa e sensível, nos convidam a entrar e nos perder no território da folha.
Eduardo Veras
Crítico de arte, professor-pesquisador do Instituto de Artes da UFRGS e membro do Comitê de Acervo e Curadoria do MACRS