Ao examinarmos as obras de Patricio Farías presentes no acervo do MACRS – esculturas e desenhos – percebemos a íntima relação entre uma e outra linguagem na produção do artista chileno. Uma relação que aponta sempre para o que tem de desenho na escultura, para o que tem de projeto no desenho, ou seja, para uma dimensão que está do lado de fora da coisa em si, conferindo fascínio, mistério e alguma dose de humor aos seus trabalhos.
Partindo dessa equação entre projeto, desenho e escultura, embalada pela exímia habilidade técnica de Patricio, a exposição Hecho a Mano ainda relaciona a transversalidade da obra do artista com sua própria trajetória. Patricio Farías saiu do Chile em 1979, exilado em função da ditadura militar que assolava o País, e nunca mais retornou ao seu local de nascimento. Em 2014, realizou um trabalho chamado Autorretrato, que reúne três documentos de identidade do artista: a cidadania espanhola, o visto de residente permanente no Brasil e sua carteira de identidade chilena.
Chileno, espanhol, brasileiro, Farías acumula todas essas identidades e, ao mesmo tempo, parece nos dizer que nem ele nem ninguém (e nem mesmo a arte) pode ser reduzido a uma definição, sob risco de perdermos aquilo que nos torna comuns e singulares a um só tempo. Talvez por isso, Hecho a Mano, aqui e ali, nos pisca o olho para acrescentar uma dose de leveza e ironia ao absurdo desse mundo de máquinas inúteis e conceitos insensatos.
- Gabriela Motta
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