Comentários/Dados históricos
Outra característica dessa nova produção é o uso do sisal, que é usado na trama e que, de acordo com a artista, “[...] é mais rebelde que a lã e sua rusticidade combina muito bem com a minha sensibilidade” (ZORAVIA..., 1980, p. 2). Dessa maneira, ao substituir a tradicional e nobre lã – normalmente empregada na criação de tapeçarias artísticas – por um material rústico” e barato, comumente usado na feitura de peças utilitárias e no artesanato brasileiro, ela tensiona o popular e o erudito. Esse foi um dos materiais mais usados pela artista na sua produção têxtil.
Na figura 99, que é um dos trabalhos da série Homenagem a Poetas, percebe-se o uso que Zoravia faz do sisal, usando diversos pontos que dão texturas e volumes diferentes na tapeçaria, o que vai interessar cada vez mais a artista, levando-a a criar peças tridimensionais. Em 1974, Zoravia desenvolveu a série Transparências Geométricas (figuras 102 e 103), com a qual, a partir de suportes de ferro de diferentes formas, a artista alcançou diversos formatos.
Não é à toa que Zoravia Bettiol identifica esse trabalho como uma forma tecida, termo utilizado por Douchez e Nicola para indicar suas obras tridimensionais, pois a palavra
tapeçaria não seria a mais adequada. O trabalho é um objeto tecido, no qual o suporte de ferro se tornou base para a tecelagem. A tapeçaria, tradicionalmente, é tecida no tear e, quando finalizada a trama, é retirada do tear e fazem-se os acabamentos finais; assim, está pronta para ser colocada na parede. Zoravia inovou, pois o trabalho é tecido no próprio suporte, possibilitando novos formatos, uma maior liberdade na construção da obra e, ao suspenderem-se as obras no teto, faz-se um convite ao espectador a rodeá-lo e vê-la de diversos ângulos.
O mesmo ocorreu com a série Metamorfose, iniciada em 1976. Usando termos da música, como Rapsodia, Intermezzo e Minueto, Zoravia Bettiol criou estruturas metálicas que podem ser combinadas de diversas maneiras, propondo “certa flexibilidade quanto à inter-relação entre as partes” (RAMOS; GOMES, 2017, p. 63).
Nas duas imagens abaixo, temos a obra exposta de duas maneiras diferentes; na primeira imagem, as bases foram colocadas lado a lado; na segunda, está uma na frente da outra, modificando a percepção e a movimentação do espectador perante a obra. (texto completo em GRIPPA, Carolina Bouvie. O início da trama: a produção têxtil de Zoravia Bettiol e Yeddo Titze / Carolina Bouvie Grippa. -- 2021)