Estante do Escultor

Texto Crítico

O trabalho de Patrício Farias é permeado pelo humor e pelo questionamento dos códigos visuais presentes na sociedade contemporânea. Tal como Marcel Duchamp, Farias tensiona a relação entre texto e imagem, entre significado e significante e não poderia ser diferente na obra “Estante do Escultor”. A obra fala de uma problemática presente no cotidiano de um artista, seja ele um pintor, um escultor, um gravurista, etc: o que há na estante de um artista? o que consta entre seus pertences?
Parte da indagação poderia expressar a curiosidade singela do público em conhecer a vida privada e o processo criativo do artista, mas também revela a responsabilidade por parte do artista em materializar em oito esculturas símbolos que representam o ofício do escultor. Alguns símbolos, como carretéis, revelam semelhanças com trabalhos de Farias que exploram a relação entre artefatos e ludicidade, como suas máquinas à semelhança de artefatos de Leonardo da Vinci; outros como cubos, dizem respeito à sua experimentação com a geometria do espaço, deixando um espaço vazio no imaginário do público, para que o espectador crie suas próprias operações de criação de sentido, ao justapor silenciosamente as peças mencionadas. De todo modo, as obras de Patrício Farias, segundo Adolfo Navas (2014) apud Franco (2018) seriam anti coisas, que “brincam com a utilidade falsa de sua apresentação, com o código de sua representação”, onde a quebra de expectativa por parte do espectador é o que o artista intenciona ao apresentar seus trabalhos.