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Esperando o arroz ficar pronto
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Miniatura
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Número de registro
MAC0201
Título
Esperando o arroz ficar pronto
Série
Mandalas Gerúndio
Autoria
Ano
2014
Denominação
Material/Técnica
Suporte/Mídia
Dimensões
30 X 22 cm
Texto para etiqueta
EDUARDO NASI
(Porto Alegre, RS, 1976)
Esperando o arroz ficar pronto, 2014
Série das Mandalas Gerúndio
Caneta Pen Gold sobre papel, 30x22cm
Doação artista
Aquisição
Doação artista, 2014
Créditos da fotografia
Condições de reprodução
O uso de imagens e documentos é permitido para trabalhos escolares e universitários com caráter de pesquisa e sem fins lucrativos. Junto à reprodução, deve sempre constar obrigatoriamente o crédito à fonte original (quando houver) junto ao crédito: Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul. Os direitos autorais são de propriedade de seus respectivos detentores de direitos, conforme a Lei de Direitos Autorais (LDA – Lei no 9.610/1998). O MACRS não detém a propriedade de direitos autorais e não se responsabiliza por utilizações indevidas praticadas por terceiros.
Textos críticos
Texto Crítico
O desenho Esperando o arroz ficar pronto, de Eduardo Nasi, faz parte de uma série chamada Mandalas Gerúndio. Nesta série, o artista produz dezenas de desenhos em forma de mandalas que obedecem uma regra - desenhar através de um gesto repetitivo e em uma forma circular enquanto espera que algo aconteça. Assim, teremos desenhos esperando o ônibus chegar, o arroz ficar pronto, o filme começar, o médico abrir a porta, enfim, uma infinidade de pequenas esperas cotidianas medidas por desenhos de mandalas cujo diâmetro é dado pelo tempo necessário para o acontecimento esperado. Ao lançar mão de um procedimento conceitual - a regra que estrutura a série pode ser percebida nesse sentido - através de um tipo de desenho que se confunde com uma notação, uma marcação repetitiva cuja duração é determinada pelo tempo, o trabalho de Nasi preenche de dimensão poética a multidão de instantes infraordinários do cotidiano. Por mais que cada obra tenha a sua própria especificidade e motivo - canetas mais ou menos espessas, papéis diversos, mandalas de diferentes diâmetros - todas elas nos sugerem reflexões tanto sobre esse tempo que passa e de fato preenche nossa vida, bem como sobre a noção de desenho e suas infinitas possibilidades.
Autoria
Comentários/Dados históricos
A obra faz parte da série “Mandalas Gerúndio” e foi doada pelo artista ao Museu de Arte Contemporânea (MACRS) pelo artista no dia 13 de agosto de 2022.
Exposições e prêmios
- Exposição: Volúpia Construtiva - Prazer e Ordenamento em Desenho sobre papel no Acervo MACRS. Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), 6 º andar, Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre, RS, 2014.
|- Exposição: Matéria Difusa - Um olhar sobre a coleção MACRS. Galeria Xico Stockinger, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), 6 º andar, Casa de Cultura Mário Quintana. Porto Alegre, RS, 2022.
|- Exposição: Matéria Difusa - Um olhar sobre a coleção MACRS, Recorte Língua Viva. Galeria Edmundo Rodrigues, Complexo Palacete Pedro Osório, Bagé, RS, 2022.
Histórico de publicações
BULHÕES, Maria; PELLIN, Vera; VENZON, André [org]. Catálogo acervo do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul. 1. ed. Digrapho Produções Culturais, Porto Alegre, 2021. p. 92 - 93. Catálogo de Acervo. Disponível em: https://acervomacrs.wpcomstaging.com/catalogo/. Acesso em 12 de abril de 2022.
NASI, Eduardo. Série das Mandalas - Gerúndio. Entrevista cedida a Gabriela Motta. Porto Alegre, 2022.
Eventos relacionados
Mídias relacionadas
Esperando o Filme Começar - Eduardo Nasi. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/eduardonasi/14483006172/in/photostream/. Acesso em 12 de abril de 2022.
|"Batizada como Volúpia Construtiva: Prazer e Ordenamento em Desenho sobre Papel no Acervo do MACRS, a mostra reúne 32 artistas, que contribuíram com trabalhos históricos e recentes, abstratos e figurativos. Por trás do nome, está a vontade de conciliar duas visões sobre o desenho". Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/noticia/2014/06/Exposicao-lanca-olhar-sobre-acervo-de-desenhos-do-MACRS-4536783.html .Acesso em 12 de abril de 2022.
|"Vou começar com um contexto mais amplo: o momento em que essas mandalas surgem.Eu tinha voltado a desenhar muito, especialmente depois de uns cursos com o Guazzelli, que foram bem importantes pra mim. Esses cursos eram em um apartamento-estúdio que o Guazzelli tinha no Vale do Anhangabaú, perto da Galeria do Rock, e a gente conversava, comia biscoitos, bebia café e desenhava o tempo todo, por muitas horas, porque o Guazzelli acredita muito nessa prática constante do desenho. Desenhávamos muito na rua, e o Centro de São Paulo, você sabe bem, não é um lugar hospitaleiro para uma prática convencional de desenho. Os grupos de desenho convencionais vão para esses lugares domesticados, tipo a Igreja da Nossa Senhora do Brasil, o Mube, mas o Centro é um espaço de disputa, o que de alguma forma contaminava nossos desenhos.Dessas aulas, surge um projeto chamado Desenhando São Paulo, que criei com outra pessoa que estava se reencontrando o desenho, que é a Márcia Tiburi. Eu e a Márcia nos conhecemos em Porto Alegre e acabamos vindo para São Paulo com poucas semanas de diferença, ela para fazer o Saia Justa, e minha última matéria na Zero Hora tinha sido justamente sobre a vinda dela. Foi quando nos aproximamos muito, e nos apoiamos mutuamente nessa transição. Desenhando São Paulo parte desse nosso encontro, das aulas do Guazzelli, da investigação da cidade. Desenhamos em locais nada bucólicos durante mais ou menos um ano: dentro do metrô, no Brás, na Aclimação. (Junto com o Edu Veras, nos unimos com o grupo da Tereza Poester, que criou um Desenhando Porto Alegre, que durou umas edições.)
Claro que havia muito desenho de observação nesse grupo, mas de repente começamos a incentivar uma outra coisa que logo percebemos que nos interessava, que é o desenho na rua que não está conectado diretamente com o que está na nossa frente. Por exemplo: há uma série de igrejas barrocas imaginárias, rabiscos meio toscos, mas cheios de detalhes, desenhadas em ônibus em movimento, por exemplo.Então esse é o contexto das mandalas: é um momento em que estou experimentando desenhos feito em deslocamento, no percurso, no caminho, e tentando encontrar quais os desenhos que podem sair dessa experiência. Há uma ideia de que o mundo é o atelier, mas que o atelier é esse mundo possível, concreto, o mundo de quem pega ônibus para ir trabalhar. Não é Paris, o deserto ou a Serra da Capivara, não porque não sirvam, mas porque são exceções na minha vida.Claro que escrever isso agora é muito mais fácil do que fazer esse percurso, porque nada disso foi pensado nem previamente nem na época. Tudo foi surgindo a partir dos próprios desenhos.O que eu tenho ao começar a mandala é um tempo de espera indeterminado com um marcador determinado. Ou seja: eu sei o que vai determinar o fim do processo:
o ponto do arroz
o psicanalista abrir a porta
o ônibus parar no ponto
eu chegar ao meu destino
Mas nem todos os arrozes cozinham na mesma velocidade
Psicanalistas, mesmo os pontuais, como o meu, podem atrasar ou mesmo começar mais cedo
O ônibus é uma loteria
O trânsito em São Paulo, idem.
Outros elementos interferem, em especial, a espessura da ponta da caneta: um marcador Sharpie preenche uma página mais rapidamente que uma ponta 0.1 mm – e daqui surge uma variação estética que não vejo como o centro do trabalho, mas que naturalmente me interessa: “Como ficaria uma mandala com esta caneta neste papel? Os traços desta caneta criam uma textura ao se sobrepor ou tendem ao plano?”. O resultado estético-gráfico da mandala me interessa não como uma qualidade final do desenho, mas como um elemento que favorece à concentração. Acho que aqui talvez seja importante pontuar que deve haver centenas de mandalas desenhadas, e que essas em folhas soltas, que funcionam em exposição, não são a regra: a maioria está em cadernos e cadernetas. Algumas ocupam mais de uma página – a regra é preencher totalmente a página e, se for o caso, continuar na página seguinte. Às vezes, eu andava com uma pasta de papéis soltos na mochila, e daí vieram essas folhas soltas. Mas voltando um pouco: o que me interessava nesses desenhos era o registro do tempo. Não como a ampulheta que você menciona, porque a ampulheta encapsula um tempo determinado. É mais um marcador de tempo, um cronômetro, uma medição que é encerrada por um gesto pré-acordado. Ou também um passatempo, uma palavra que a aceleração modernista olha com desprezo, mas que talvez a gente tenha que voltar a olhar para ela com mais afeto". Eduardo Nasi em entrevista para Gabriela Motta, 2022.