As obras de André Barbachan promovem uma conexão sensorial com o público e incorporam tecnologias analógicas e digitais como recursos integradores. O artista iniciou sua carreira através da música, tocando em bandas pelo Rio Grande do Sul. Sua relação com os instrumentos é sinestésica. Ele sente que o som gera respostas visuais e procura causar essa conexão e imaginação no público. Desmontando e remontando aparelhos de som, ele ressignifica as funcionalidades, trazendo a mecânica e a engenharia sonora aos espaços expositivos. André passou a investigar ruídos cotidianos e características da atmosfera urbana e natural. Ele inclui esses marcos sonoros em suas esculturas e instalações, convidando o visitante a ser não apenas um ouvinte, mas também um compositor.
“Antes naquele lugar, eu. Nós aqui” é uma instalação produzida em comemoração aos 200 anos da cidade de Pelotas. Quando o visitante interage com o controlador central, um joystick de fliperama, quatro torres afastadas emitem uma sonoridade particular. Cada torre representa uma característica atmosférica do município, sendo descritas como “Música”, “Praças”, “Praia” e “Trânsito”. O seu formato remete à monumentalidade de um obelisco, marco visual e simbólico de admiração. A eleição desses temas se relaciona à vivência do artista, que fazia apresentações públicas com seu grupo Canastra Suja em praças e praias, movimentando-se e ocupando o espaço humano.
Há um caráter ritualístico na artesania da obra. Desde o exterior dos módulos aos circuitos sonoros, foi um trabalho manual. Em uma sociedade de ondas de wi-fi e telas touch, o artista declara seu carinho pelos circuitos físicos e botões clicáveis, em que a fisicalidade da mecânica é acessível. A escolha do comprimento dos fios de conexão, sete metros, se relaciona às crenças esotéricas de André: sete notas musicais, sete dias da semana, sete leis que regem o universo, sete dias da criação do mundo.
A experiência do público da obra varia. Quem opera o joystick pode não perceber a própria interferência no som ambiente, enquanto a pessoa próxima a uma torre pode escutar mais facilmente a influência. Enquanto o som remete a Pelotas para André, pode remeter às próprias vivências do ouvinte.
O artista escolheu usar MP3s, pequenos aparelhos de música popularizados na década de 1990, em seu sistema de som. Semelhantemente, a alavanca joystick, que estabelece o diálogo do público com a obra, é muito característica de jogos do passado. A eleição dessas tecnologias é uma referência à sua juventude nos anos 1980 e 1990. No período, os fliperamas eram locais de interatividade. Barbachan traz à instalação um caráter gamificado, que promove o uso do corpo e ocupação de um espaço de maneira ativa.